9s58 sem ar

Eu acordei tarde e com a cabeça pesada, mas sabia que algo muito grandioso aconteceria neste domingo na Alemanha.
Mesmo indisposto, liguei a TV e comecei a acompanhar o Mundial de Atletismo.
Enquanto as provas aconteciam no histórico Estádio Olímpico de Berlim (o mesmo que viu o negro Jesse Owens irritar Adolf Hitler), flashes da área de aquecimento mostravam Usain Bolt descontraído. Nada anormal.
Ansiedade e empolgação dos espectadores que faziam as bandeiras da Jamaica tremularem nas arquibancadas, enquanto, nas pistas, como sempre, a ilha brilhava. Ou melhor, lampejava por alguns segundos. Shelly-Ann Fraser, Kerron Stewart... Mas cadê os sorriso dele, o mito?
Minutos depois, a resposta. Levanto-me da cama e fico de pé.
Uns destacavam Tyson Gay(EUA), outros falavam de Asafa Powell. Alguns, ainda, lembravam de Daniel Bailey (Antigua e Barbuda)... Mas calma, era só uma das semifinais!
Ele entra e o estádio inteiro explode em urros, gritos e aplausos. Uns são mais contidos, outros não. Bolt parece ser querido por todos, apesar de ser apontado como arrogante por muitos.
Dentro da pista, porém, ele provoca o público com os populares gestos e os famigerados braços de Bolt, apontando para o alto como uma seta - a prova de sua simpatia.
Depois de duas largadas queimadas (a primeira pelo próprio Bolt), um dos atletas é desclassificado e o homem centro das atenções é novamente ovacionado pela tranquila classificação. Ele, novamente, brinca na pista. Faz um tempo relativamente bom tirando o pé e olhando para o lado.
Encerrada a sua participação a atenção se volta para outras provas. Nosso Brasil estava bem representado, mas sempre nos falta algo para brilharmos ainda mais.
O dia passa e eu ligo a TV outra vez. Só dá tempo de ouvir a ordem, o tiro e perder o ar por exatos e incríveis 9 segundos e 58 centésimos. Ele é recordista mundial mais uma vez! E melhora sua própria marca em 11 centésimos!
Comemoro como se o verde e amarelo jamaicano fosse o nosso e agradeço em silêncio por ter perdido 9s58 da minha vida vendo a maravilha do esporte se desenrolar mais uma vez.