sábado, 4 de fevereiro de 2012

West Ham x Millwall: mais um capítulo da história

Mais uma parte da história de West Ham x Millwall foi contada neste sábado (04/02), em Upton Park, na zona leste de Londres. O capítulo dessa vez teve contornos contemporâneos e foi marcado pela nova política inglesa de combate à violência nos estádios. Se em 2009 (última vez em que as duas equipes se enfrentaram) o enredo foi igual ao de tantos outros jogos do passado, o jogo de hoje fez alusão aos sonhados novos tempos.

No clássico que simboliza o hooliganismo na Inglaterra e que contém uma das maiores rivalidades do futebol, a torcida dos Hammers, majoritária em seu espaço, cantou e até mesmo soprou "Pretty Bubbles in the Air" nas arquibancadas. As bolhas, que são tema de uma canção tradicional dos fãs do West Ham (vídeo), no entanto, eram apenas detalhes do inigualável confronto. E detalhes bem sutis em relação à violência habitual do embate.



Mantendo a tradição e a fama, o jogo entre West Ham e Millwall foi novamente tenso. Enquanto dentro do estádio em Upton Park, um setor inteiro da arquibancada ficou vazio para que as torcidas ficassem distantes, do lado de fora, lojas fecharam as portas e ruas inteiras foram interditadas. A polícia, por sua vez, manteve-se em alerta por toda a cidade.

Dentro de campo, o resultado de 2 a 1 foi justo para os donos da casa e foi repleto de jogadas ríspidas, principalmente no começo. Em um desses lances, por exemplo, o capitão do West Ham, Kevin Nolan, foi expulso após um carrinho irresponsável. A vantagem que os Lions teriam, no entanto, não foi vista em campo. Mesmo com um homem a menos, o United abriu o placar no final do primeiro tempo e continuou mandando no restante da partida. O empate do Millwall aconteceu com um golaço de Trotter, mas a virada foi rápida.

Por fim, o resultado consolidou o West Ham como principal candidato ao acesso à glamurosa Premier League (na qual ele já esteve por muito tempo), na primeira colocação da Football League Championship. O Millwall, no entanto, continua se segurando na luta contra o rebaixamento.

Se em campo dois times diferentes se apresentaram, fora dele torcedores que se odeiam igualmente mantiveram-se prontos para a briga (foto). Relatos da imprensa dão conta de que o policiamento funcionou, mas grupos de jovens encapuzados não deixaram de se mobilizar nos arredores do The Boleyn Ground como se aquilo fosse a razão de suas vidas.




Em reportagem concedida a João Castelo Branco, repórter da ESPN Brasil (emissora que transmitiu o jogo para o nosso o país), o ator Leo Gregory, que interpretou Bovver no filme “Hooligans: Green Street” (2005) diz que os atos desses homens funcionam como um "'Clube da Luta' da classe operária". Estudioso e interessado pelo assunto, ele comenta que muitas pessoas envolvidas na gravação do filme conheciam e se envolviam com esse lado do futebol.

Para ele, pessoas assim sempre vão existir, apesar da pressão dos órgãos públicos e da sociedade. Na Inglaterra, como se sabe, os baderneiros são fichados, caçados e perdem cada vez mais espaço, mas ainda existem – se não dentro, fora dos estádios.

A análise de Gregory é interessante tendo em vista o prisma social no qual o futebol se situa. Afinal, o que vemos aqui no Brasil é similar: pessoas marginalizadas que vêem o time pelo qual torcem como uma saída para essa existência árdua. A violência, então, é uma consequência em um mundo sem alternativas e o confronto com o adversário e a desordem tornam-se meros passatempos.

Vistos por muitos como uma praga social, esses torcedores inegavelmente fazem parte do futebol. Não trazem nada de bom ao esporte e devem, sim, ser oprimidos, mas jamais devem ser ignorados como integrantes sociais de algo maior. Ainda que sejam a antítese do significado do futebol, existem e são fruto do que o próprio futebol representa. A história que carregam e o contexto no qual se situam explicam o motivo pelo qual o esporte se tornou o que é há tanto tempo.

Deste modo, não há como negar que assistir a esse clássico seja uma experiência incomparável para um amante de história e futebol. A singularidade do combate é, afinal, uma daquelas histórias que sempre vão continuar existindo – contadas por muitos e por tantos anos. 

Muitas bolhas ainda serão sopradas no ar...

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